domingo, 15 de novembro de 2009

MEMORIAL - EVOCANDO A LEITURA EM MINHA VIDA.

EVOCANDO A LEITURA EM MINHA VIDA
Francisca Lopes


As lembranças são responsáveis pelas imagens resgatadas desde as primeiras experiências de leituras vivenciadas por mim, quando se deu a minha inserção no mundo leitor.
Aos sete anos de idade, fui matriculada numa escola pública: Grupo Escolar Cônego Estevam Dantas, localizada no mesmo bairro e rua, onde residia. Alto da Concdeição, na Av. Alberto Maranhão, na cidade de Mossoró/RN, onde nasci e cresci.
Vem à tona, no momento, o teor da alegria sentida ao vestir àquela farda pela primeira vez. (Sonho que acalentava no meu coraçãozinho de menina pobre). Era uma saia azul marinho, pregueada (abaixo dos joelhos), blusa branca em tecido - tipo camisa - tênis, também, azul, da marca "cônga,"meiões brancos e uma gravatinha do mesmo tecido da saia com galão branco na ponta marcando a série que cursava. Na minha, não tinha nehum ainda.
Senti-me o máximo dentro daquele uniforme escolar. Pena que não havia em minha casa um espelho grande para poder contemplar toda a felicidade que habitava o meu pequeno ser.
Nem sei se caberia nele, caso existisse.
De posse do material básico: um caderno de brochura pequeno, um de desenho, um lápis comum (grafite), com borracha branca, uma coleção pequena contendo seis lápis de cores: encarnado, bonina,azul, verde, amarelo e preto e, uma "gillete" (só a metade) para apontar os lápis. Ah! Já ia eaquecendo. Também, fazia parte deste material uma Carta de ABC, na qual meus pais ensinaram-me todas as letras do alfabeto, inclusive o k,w e y, juntamente com alguns textos interessantes que dela faziam parte. Mesmo antes de eu ir para a escola.
Em minha família, isto, constituia um fato. Foi assim com meus quatro irmãos mais velhos e as três mais novas. De modo que chegávamos à sala de aula lendo e escrevendo um pouco. Sim. A tabuada, também, era parte indispensável deste material. Sempre nos diziam ser ela muito importante para aprendermos a contar, fazer contas e diferenciar os algarismos arábicos dos romanos.
A estas alturas, sentia-me muito importante e capaz para continuar o meu processo de aprendizagem no Grupo Escolar, pois já sabia tudo isto.
Estava, na verdade, muito anciosa para conhecer minha professora e a famosa "Cartilha de Sarita" por meio da qual daria continuidade ao meu sonho de ler textos maiores. O que não aconteceu. Lembro-me que tratava-se de um amontoado de frases atrelados a imagens. Ainda trago de cor algumas delas. Veja: "ESTA É SARITA.
SARITA TEM UMA BONECA.
O NOME DA BONECA DE SARITA É ZAZÁ.
ZAZÁ USA FITA COR DE ROSA NO CABELO.
ZAZÁ DIZ MAMÃE, MAMÃE."
Fique um tanto decepcionada,pois meus dois irmãos mais velhos estavam na mesma escola que eu, faziam o 5o. ano primário e estudavam num livro grosso, bonito, de capa dura chamado: PROGRA DE ADMISSÃO. Era um volume único que continha todas as disciplinas do currículo, não consumível e que minha mãe para comprá-lo vendeu a aliança (de casamento) do meu pai, tendo em vista que éramos muito humildes e na ocasião não dispunham de outra forma para adquiri-lo.
Ela sempre os orientava para que zelassem porque todos nós iríamos estudar por este livro quando avançássemos nos anos e chegássemos ao correspondente áquele nível educacional.
Eu ficava" babando" para ter acesso ao "Programa de Admissão", mas meus irmãos sempre diziam: -Você só vai estudar nele quando desasnar na leitura.
Muitas vezes eu chorava. No entanto, meu pai que embora contasse com apenas três meses de escolaridade tornou-se um leitor assíduo, consolava-me dizando:- Chore não filha! Logo, logo, você vai ler este e muitos outros livros e, colocava-me para ler para ele os cordéis que comprava nas feira livres. Guardo, ainda, na memória alguns títulos destes cordéis. Dentre eles: A Donzela Theodora, Cancão de Fogo e Rompe Ferro. Também, como era um homem de muita fé, cristão encajado nas ações da Igreja, pedia para eu ler os capítulos da Bíblia e ficava ensinando-me lições de vida. Vale ressaltar que , neste período, ainda,sentia dificuldade na decodificação de muitas palavras, porém ele era muito paciente e sempre me ajudava na leitura delas.
Um outrossim, acho que influenciado pelas parábulas - instrumento mediador de ensino utilizado por Jesus para ensinar o povo - lançava mão delas e dos adágios populares para nos assegurar valores éticos e morais, num processo metodológico reflexivo, assim como, das fábulas, pela moral que elas encerram.
Fui iniciada no mundo leitor desta forma muito intensa.
Lembro-me às noites de lua cheia nas quais minha mãe sentava-se conosco no terreiro da nossa casinha de taipa e quando juntavam-se a nós outras crianças da vizinhança para ouvir as história de Trancoso, as Aventuras de Pedro Malasartes, os Contos de Fadas e, ás vezes, Contos de Assombração que ela nos contava. Estes últimos, geralmente, em noites escuras como estratégia para írmos dormir mais cedo com o intuito de poupar o querozeno das lamparinas. Era sempre uma ou duas por noite, pois após a contação as crianças continuavam brincado de cantigas de roda como; Terezinha de Jesus,Senhora dona Cândida,Tororó etc. Dentre outras brincadeiras destaco: Boquinha de Forno, do Anel e Bom Barquinho enquanto ela continuava no terreiro conversando com as outras mães. Entre elas, algumas comadres.
Nas tardes de inverno, após as chuvas, brincávamos de amarelinha, peteca ( que nós mesmos fabricávamos), de pular corda e outras mais.
O tempo ia passando. Éramos todos muito felizes. As dificuldades eram muitas. Porém, o amor era maoior. Mesmo quando mamãe era brava, pelas travessuras que fazíamos, compreendíamos.
Apesar do pouco estudo, sempre nos orientou de modo responsável. Ainda, ouço soar em meus ouvidos as vozes deles (meu pai e minha mãe) nos ensinando a impostação da voz para recitar poemas de Olavo Bilac, Castro Alves e tantos outros (da nossa Literatura), assim como, de Camões (da Literatura portuguesa), além de muitos histórias (anedotas) sobre este mesmo autor.
Finalmente, consegui chegar ao 50. ano e pude ter acesso ao famoso "PROGRAMA DE ADMISSÃO". Que Felicidade!
A estas alturas, eu já tinha" desasnado", dominava com facilidade a leitura e acompanhei sem muitos problemas a série que estava cursando e a exemplo das séries anteriores fui aprovada no final do ano letivo.
No ano seguinte fiz o" exame de admissão", uma exigencia para se ingressar no curso ginasial. Fui aprovada e passei a estudar na Escola Estadual Jerônimo Rosado. Esta ficava muito distante da minha casa. Era preciso sair às 10h. para não perder o primeiro horário que iniciava ás 13h. A escola era enorme. Com muitas salas no térreo e no primeiro andar, cujo acesso a este último se dá - ainda, hoje, por meio de duas rampas. Fiquei maravilhada, todavia um pouco assustada, uma vez que estava acostumada à anterior que continha apenas quatro salas de aula. Em pouco tempo, acostumei-me com ela. Foi, portanto, nesta instituição de ensino que travei meu contato direto com os clássicos da Literatura Brasileira: José de Alencar, Érico Veríssimo,Machado de Assis, dentre outros, tanto na prosa como na poesia abrangendo as diversas escolas literárias.
Minha irmã mais velha, já trabalhava , assim como, meu irmão e sempre compravam gibis e fotonovelas que eu lia, muitas vezes, aproveitando a luz do luar que entrava pelas frestas da janela e do telhado quando a lamparina era apagada, pois minha rede era armada próxima à parede do quarto onde eu dormia. Resultado: sorvi a leitura mas ganhei óculos.
Conclui o curso ginasial com êxito e, em meio as reformas de ensino, cursei o primeiro ano "unificado", no Centro de Educação Integrada Prof. Eliseu Viana, para fazer opção, no segundo ano, pelo curso de Magistério da Escola Normal de Mossoró, onde defini minha profissão. Concluído o curso, prestei vestibular para licenciatura plena em Letras na Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte, (FURRN), atualmente, UERN. Era privada. Pois, nesta época, na cidade, só havia uma universidade pública a Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM), destinada aos que pretendiam ser agrônonos. Conquistei uma vaga e com ela a preocupação de como pagaria o curso. Foi então, que comecei a trabalhar no comércio para asseguarar meus estudos. Mas tarde, lancei mão do crédito educativo - manutenção e anuidade- oferecido pelo governo federal e, quem por ele optasse, deveria começar a pagá-lo, somente, um ano depois de formada. O primeiro, era destinado à compra de material para o embasamento do curso. Por meio dele, iniciei minha biblioteca, comprando coleções literárias da nossa literatura e da de outros países, assim como,também, livros de outras disciplinas. Neste peíodo, eles ainda eram baratos. O segundo, ia direto para a conta da Universidade. Valeu a pena, atavés dele assegurei com mais tranquilidade o minha graduação.
Conclui meu curso dentro do tempo previsto. Apesar de trabalhar durante o dia e estudar à noite, sempre conseguia um tempo para a leitura, geralmente, nos intervalos do almoço e enquanto ia no ônibus para a Faculdade.
Tudo isto ajudou-me a manter acesa a minha paixão pelos livros e a conquistar, mais tarde, muitos dos meus alunos ao longo dos trinta anos no magistério público e privado. Pois, como diz Ilza Prigogine "As decisões humanas dependem das lembranças do passado e das expectativas do futuro". Por isto, os cursos de formação dos quais tenho participado têm incendiado o meu desjo leitor e massageado o meu ego profissional.
Ler, para mim, é desvendar mistérios que a vida teima em enconder muitas vezes.
Serei eternamente grata aos meus pais por terem ensinado-me a amar os livros mesmo quando , ainda não os sabia ler convencionalmente e a todos aqueles professores que exigiram que eu os lesse.

AVALIANDO O ENVOLVIMENTO COM O GESTAR E A SUA CONTRIBUIÇÃO NO MEU FAZER PROFISSIONAL

É, incrivelmente,maravilhoso perceber o quanto este "PROGRAMA" acrescentou à minha vida.
Cada momento destinado para a leitura dos TPs e AAAs, elaboração dos cronogramas e das pautas, destinados à efetivação dos encontros com os professores inscritos, as discussões feitas em torno de todos os aspectos que concernem com as temáticas selecionadas para a composição do material e, as observações feitas, em algumas classes, quando se deu a aplicação das oficinas sugeridas nos AAAs, pelos professores participantes, para seus alunos acrescentaram novos conhecimentos e paradigmas norteadores de reflexões na ação didática, de modo que se faz necessário ressaltar a sua importância no meu dia-a-dia quer como sujeito do fazer pedagógico quer como cidadã que vivencia o processo comunicativo como falante nato da Língua Portuguesa ou fazendo uso dela nas modalidades que lhes são peculiares.
As experiências, vividas junto aos professores, a troca de saberes, as dificuldades postas em comum para a busca de soluções foram, sempre, muito pertinentes para o alavancar de novas decisões asseguando credibilidade na aplicação da metodologia ditada pelo GESTAR II.
O êxito final é o resultado conjunto de todas as ações, cujo empenho e desempenho cumulou a participação e a interação nos diversos encontros e contatos feitos com cursistas enquanto estudavámos o acervo colocado em nossas mãos.